“Filho lembre-se que para tudo existe uma variante, às vezes
as personalidades das pessoas são modificadas. É como o ferro, malhado quente ou
frio, com força, se destorce.”
Arfh- era o som da
minha garganta, pigarreando – Glub – e agora minha garganta engolindo saliva.
Estranho quando do nada você pensa que não engole sua saliva a décadas, depois
de tanto tempo calado. Que horas? Vejamos – olho no relógio – 12h37min, hm, até
lembrei que estou com fome. Ajeito meu bloquinho de notas por cima da mochila
cheia de bugigangas, um monte de porcarias inúteis uteis, que nunca se
sabe quando se ira precisar, tipo nunca.
Olho pra garota que se encontra a 11h, esse é o sistema de coordenada
náutica, creio eu, ela esta na minha frente e a esquerda, pronto. Pelos seus olhos,
ela é observadora, vou tomar cuidado pra que não perceba que a olhei – olho pra
fora do ônibus, avisto uma igreja, umas senhoras passando, um boteco, outra
igreja, umas casas, uns botecos, umas igrejas – esquece olhar pra fora, foco
nela novamente – hm – vish, pensei meio alto, o senhor do lado deve ter ouvido,
tanto faz, ele resmunga tanto quanto eu. O nariz, vejamos, é daqueles curvados
pra dentro, ela segue seu instinto, boa intuição, será que ela sabe que
pretendo falar com ela?! – Glub –
denovo?! Caramba, parece que não vejo água a dias, porem, inconscientemente
isso é uma emoção que estou tentado não lembrar, nem lembra nem sentir, esqueça
ela, “esqueça aquela vaca” é o que as Carol disse, não importa, “Me esqueça!”
vou o que aquela ordinária falou. Vai ver é pra esquecê-la mesmo, melhor assim.
– Glub – Mas que diabos, pare já com isso! Volte para seu momento
de analise!
A testa dela, é meio ampla sim, sim, exatamente, ela é
inteligente, ótimo, não gosto de garota
burra, as burras sempre me trocam por... tipo aquela... vadia! Esquece, foi!
Para ser superior, desejo o melhor de tudo pra ela... isso não foi sincero, com
certeza. Vou só seguir meu caminho, meu, do ônibus, e de todas essas 30 pessoas
no mesmo.
As orelhas dela têm um formato meio circular, não lembro
direito, vejamos no bloco! – Viro as páginas até chegar na letra “O” – Olhos,
Orelhas! Hm, ela gosta de boa música, ótimo, somos dois. Ei, essa garota ta pra
mim! Se ela descer no meu ponto, sou obrigado a ir falar com ela. Mas antes,
mais analise!
Lábios, que formato, quanta carne, perfeito. Tem aquele
desenho no lábio superior, o que eu acho que é de gente que sabe falar... aquelas
coisas... Oh, o sinal, ela vai descer, é só dois pontos antes do meu, Oh
vizinha, chega mais! – Coloque o bloquinho na mochila – olhei pro senhor e
disse: Ei senhor, ah... com licença. – Ele deu aquela viradinha tão sutil
quanto o buraco da cabeça de um alfinete, e passei.
Ela desceu, uma senhorita desceu também, eu desci, sou um
cavalheiro, elas sobem e descem primeiro. Segui, ela estava uns 7 ou 10 passos
a frente, dei uma corridinha, e fui falar com ela, segui umas regras básicas passadas
de pai pra filho, um código de conduta, honra, e o que chamamos de “poderes extra-naturais”.
O lance com ela foi bom, mas foi simplesmente pelo meu jeito
da abordagem, por que não vi tanta sensibilidade onde via sensualidade. Ela
falou demasiadamente sobre coisas matérias, poxa, esse ferro foi malhado a base
de ouro! E sim, eu não posso bancá-la, e
nem gostaria, dinheiro não traz amor, mas com amor se faz dinheiro. E naquela noite, relatei isso ao Pai, Mestre
em Analise Antropológica, e um diabo a quatro sobre psicologia e o raio todo.
Por isso o chamo de “Paima”, ou só mestre, de vez em quando.
–Filho, o cabelo dela, como era?
–Não reparei, acho que era meio longo.
–Não falo disso, digo se era fino ou grosso!
–Ah, acho poderia se encaixar em... fio grosso,
indubitavelmente não era fino.
–Você leu o bloquinho inteiro?
–Não...
–Então, fios grossos podem significar apego material, mas
lembre-se, algum dia você pode encontrar uma garota de cabelo parecido, mas,
existem sempre variáveis. Cheque sempre duas vezes.
É, tenho muito a prender ainda. Mas não é por isso que vou
parar de tentar. Porque sempre me lembro que se deve procurar sempre aprender,
independente do que, pois nunca se sabe.
Paima e os analistas é uma serie de crônicas, com a possibilidade de não ter tanto sentido superficial. Mas o importante é pelo menos estar fazendo.
Obrigado.
Gostei do tema e do rítmo colocado aqui. É um texto diferente e a proposta pode gerar muita coisa.
ResponderExcluirAs sensações do personagem e pensamentos foram bem abordados também.
Gostei.
OBS: Porque Carol? ¬¬ Eu gosto do meu nome, mesmo eu não sendo a única que o possui.