Ele pegou toda suas coisas, as que cabiam em sua mochila, tudo que era de maior
importância, a fechou, foi ao banheiro,
pegou sua escova de dente, viu ali o lugar onde ela sempre deixava aquela
escova azul, que agora, não estava mais lá. Ele pegou a rosa, que eles
trocaram durante um sábado de manhã de compras, seguido por bagunça na
arrumação dos itens do armário, e um pouco de romance no estilo dos filmes de
comedia romântica. Ficava de tarde, os dois, um olhando ao outro, o sol
crepuscular batia na sacada e nas janelas cobertas pela cortina bege, era tão
alaranjado, fazia o rosto dela parecer uma imagem do paraíso, e seus, -Ah, ...
*suspiro profundo*- era o que ele lembrava quando pensava nos olhos da mulher
que ele tinha, teve, e talvez nunca mais tenha. Era arrasador ver um homem
daquele jeito, não era arrasador, é arrasador. Somos conhecidos por sermos
fortes, mas, de baixo desse diamante que carregamos na pele, existe a coisa
mais sensível do universo, temos vida lá dentro. E as lagrimas que não saem,
nunca querem sair. Ali acabava o devaneio da escova de dente.
Olhando o
quarto novamente, viu a cama, e como fantasmas, via a imagem dos dois, ali,
fazendo piadas, vendo filmes, comendo comidas diferentes em datas especiais, o
dia que pegou fogo no colchão por causa de uma tentativa de noite romântica a
luz de velas – risos meio abafados saíram dos lábios tristes daquele pobre
homem – vendo que a felicidade lhe apareceu tão rápido após uma lembrança, toco
seus próprios lábios, e a nostalgia do beijo dela era muito grande, e as
lagrimas não saiam, elas nunca saem.
-Queria seu
beijo agora - foi o que ele disse, em voz baixa e branda, com um pigarro leve,
e o engolir de lagrimas. Você pode dizer que ele era um cara fraco, que estava
ali quase chorando, talvez ele seja mesmo, afinal, ele tinha medo de chorar? Ou
seria só mais uma tentativa de ser forte, parecer forte. Ouviu-se o virar da
tranca da porta, ele pegou suas coisas, a chave do carro, era ela na porta, e
eles estavam de encontro.
Como dois
estranhos, ele passou por ela, sem feição, ou no mínimo a que não se podia
afirma com certeza o que era. Aquele momento for torturante, pareceu demorar
horas, dias, milênios, um simples passar pela pessoa que tanto amou, a que lhe
fez juras, a que lhe traiu. Não era fácil, não se pode dizer quem sofria mais
nesse momento, o traído ou traidor.
Corações estavam ali, quebrados - com
certeza, pelo menos um - despedaçado como uma peça de vidro, quebrado pelo
brincadeira de uma criança, que pensou – ou nem pensou – que aquilo era
inquebrável, invulnerável, imutável, imortal. E aquele simples 3 segundos,
passaram-se, e antes da porta, naquele carpete que combinava com a cortina,
havia duas lágrimas, uma dele indubitavelmente, e a outra era dela, que com
certeza, ninguém sabia o que lhe passava na cabeça.
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