Sim, sim, sou obrigado a falar pras
pessoas o que é sofrer de verdade, fome, doença, guerra. Agora vai ficar
morrendo pelo o que se diz "amor"?!
Sei pode ser dor da alma, mas uma
arma na sua cabeça, o fio da morte numa bala menor do que seu olho, a ponto de
não viver por simples acaso da vida, de estar na hora errada no lugar errado.
Eu posso te ajudar, mas nunca terei dó.
Serve pra todos.
Você pode pensar que estou
falando hipocritamente, de que nunca vi uma arma sequer. Porém,
como diria um velho deitado, deitado mesmo: "A vida é uma caixinha de
surpresas meu amigo".
Era noite, por perto das 8h, somente
eu em casa, por volta dos meus 6 ou 8 anos, a idade não me parece tão
importante, mas tem sua importância. O meu pai não estava em casa, logo
ali, uns dez metros de distancia da casa, mas desatento e no lugar errado, ou
certo. Minha mãe estava chegando, na maior calmaria possível do
Jardim Ângela em pleno 2001. Ela chega e entra, mas não vêm sozinha,
dois homens estavam juntos, antes fossem amigos, eram o resultado, a criação do
Sistema: Pessoas que querem demais, simplesmente, por ver a desigualdade a uma
ponte de distancia. Eles não estavam certos de obter o que queria com o modo
errado, mas Sistema é quem os criou, os programou logo após
ter caído na armadilha da desgraça dos pobres e o luxo dos ricos. Não
os culpo por serem fantoches dessa arma capitalista, mas você faz da
sua vida o que, só que, você também faz aquilo
que vê como única escolha. Então ali eles entraram, tempos depois,
chega o patriarca da casa, não existe o que fazer senão colaborar. E
"foram-se os anéis e ficaram os dedos" como diz o
ditado, ninguém saiu ferido, porque não haverá de sair. E lá se foi o
Nintendo 64, uma grande pena pra mim e meu irmão, que por sorte não estava lá,
seria estranho aquela situação em todos na cama, juntos abraçados, e ele
possivelmente em sua cadeira de rodas, sozinho no canto, mas se ele estive lá não
deixaria essa cena acontecer. A grande questão não é de como nos perdemos tudo,
vendemos o pouco que sobrou e fomos pra uma cidade mais decente, mas como
naquele instante, onde todos estavam juntos, abraçados, e eu, uma criança, aos
prantos tive que aprender com as bordoadas da vida.
Era eu, e aquele cara mascarado, duas
insignificantes partículas num universo escuro e vazio, ele olhou pra
mim, irritado com o calor do momento, e com o choro que um dia ele pode ter
ouvido de si mesmo por ter sofrido antes também, e disse em tom rude olhando em
meus olhos, direcionando a ordem à meus pais:
"Manda
esse moleque calar a boca, senão..."
Ali, foi o primeiro grande jab que
levei na minha vida. Não havia pelo o que chorar. Não que estivesse tudo certo,
mas que aquilo era superação. O significado é muito inconsciente pra se poder
explicar assim, mas creio que você pode imaginar uma arma bem perto
da sua cara, a bala estava ali, a morte na pólvora, só era preciso uma minúscula faísca pra
que ali acabasse a historia, mas não acabou. Ainda bem, segui a vida, e só segui porque parei de chorar, senão tivesse feito isso, talvez outro alguém haveria de escrever algo parecido, mas nunca igual a mim.
Se você esta vivo, é pra lutar por
algo.
Não importa se é lutar para viver, ou
viver para lutar, desde que seja pela vida, vale à pena.
Obrigado.
Mas essa foi a primeira
grande pancada da vida, mas não a ultima.
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