A eternidade, pobre daquele que sonha com isso. Hoje “vivo”
eternamente e não vejo nem colho bons frutos. Digo “vivo”, pois se você é
imortal, logo vê que não existe vida sem a morte. Se eu tivesse percebido isso
antes, e nunca ter pedido aos céus essa maldição bem vestida de dom divino,
hoje, sei que estaria morto, em paz, perto dos meus familiares, toda minha família,
meus filhos, minha mulher, meu amor. Mas graças a meu pedido, nunca os verei
novamente.
Falo assim, mas na realidade, nunca acreditei no céu ou no
inferno. Vejo realmente como o inferno é
aqui, dentro e fora de mim, nessa espera eterna, pelo mais simples e belo nada.
Não acreditava nos deuses, em nenhum deles, nada que não
fosse concreto ou tangível, era conta de fada, fantasia, algo criado pelo homem
para não temer um fim medíocre onde sua existência e a de todos que o cerca
desapareça e vá para o nada.
Quisera eu estar no puro nada agora.
Sempre se ouviu dizer que: “Aquele que não crê no diabo será
tentado pelo mesmo”. Não acreditei no Bem nem no Mal maior, logo, fui tentado. Também
tem aquela “Não tentaras o Senhor”, bem, o resultado esta aqui, sou eu.
Enquanto penso nisso, e escrevo num raro pedaço de papel,
vejo esse céu avermelhado, onde sem as luzes vivas das cidades, posso ver as
estrelas. E os cientistas diriam que elas eram “Eternas”, se me conhecessem viriam
que elas seriam somente bolas de fogo.
Quisera eu me extinguir.
Queimar por completo e desaparecer.
Talvez essa “carta” seja inútil, já que na Terra não existe
vida há anos, tantos que mal posso calcular. Eu vi pneus serem destruídos pelo
tempo, sim, eu fiquei sentado esperando isso, pareceu uma eternidade. No caso,
essa palavra se encaixa bem no contexto, porque será!?
Eternidade, pobre daquele que sonha com isso... Viu, a
eternidade te deixa repetitivo. Seu eu fosse alguém que vivesse, teria um tempo
limite, e esse tempo limite me levaria a viver. Coisa que nem em vida fiz.
Com cada vez mais um mundo todo para mim, decidi aprender
tudo que dava, era a melhor das boas coisas a se fazer. Obtendo todo
conhecimento, resolvi viver do jeito que dava, bebi, comi, festejei, enganei
pessoas, ganhei dinheiro com a minha poupança eternamente em crescimento,
transei com centenas ou muito mais, roubei, fui preso e fiquei preso anos e
anos. Eu sendo eterno, não envelhecendo e as pessoas não percebiam isso. Era como um fantasma, mas eu
estava vivo, meu coração batia, as pessoas me sentiam, mas nunca fiz grande
diferença em nada que não me fosse beneficio. Nunca nem sentiram minha falta.
Simplesmente por minha presença eterna sem limite de termino, onde, tudo podia
ser adiado. E assim foi sendo.
Tive uma temporada de algumas primaveras de humildade. Depois
de um tempo cansei, as pessoas não estavam valendo todo meu esforço
espiritualizado.
Tive uma temporada arrogante, mas as pessoas eram muito fracas
e de baixa estima, vivendo com medo de viver, não valiam meu esforço de tentar ajudá-las
a perceber isso.
Tive também uma temporada de procurar alguém para amar,
certo dia a encontrei e então... Droga! Esta acabando essa folha, quando
encontrar outra, conto detalhes.
Atenciosamente, o único e ultimo,
O Eterno.
(Caio S.C.)